terça-feira, 27 de outubro de 2009

Demon Soul: Ele e Ela

Esta improvável história que estou prestes a contar perde-se pelos limites do tempo. A sua data é incerta. Até podia ter-se passado neste presente, ou talvez uns anos mais à frente no futuro, quem sabe talvez umas décadas atrás no passado. Mas indiferentemente do ano, a sua única pista indicando o tempo, é que se passa algures por perto desta data de 31 de Outubro.
Naquela noite fria de chuva o vento batia nas janelas e estores do bairro nº75 dos subúrbios de Strangeopolis. As águas, criando pequenas correntes nas estradas e passeios à medida que se acumulavam, escorriam para os esgotos da cidade sem parar. Em breve pela alvorada, as tampas dos canais subterrâneos transbordariam, inundando as ruas mais pequenas e estragando o dia a algumas pessoas assim que acordassem.
Edwin Brat não precisou de despertador naquela manhã gélida. O dilúvio da noite anterior tinha sido barulhento o suficiente para o impedir de pregar olho por momentos que fosse. Devagar e algo ansioso como em todas as manhãs de semana, levantou-se do colchão afastando os lençóis para o lado e bocejando por momentos. Observava o seu quarto desarrumado enquanto pulava da cama e se espreguiçava pensado no momento em que se tinha ido deitar no dia anterior. Invejava o sua figura do passado prestes a deitar-se para descansar durante 8 horas seguidas, mas tentou desviar esse assunto e pensar no dia que ainda tinha pela frente. Um dia de aulas nunca era muito animador para quem quer que fosse. Especialmente para ele que mais que tudo gostava de ter a sua liberdade em vez de ficar limitado a um horário estúpido.
Depois de tomar banho, vestir-se e tomar a sua tradicional malga de cereais, Edwin pegou na mochila e dirigiu-se com cuidado à garagem. Ao sair de casa teve o cuidado de não fazer barulho, pois sabia que a sua mãe tinha um sono leve. Desceu a escadaria do 2º andar até ao piso mais baixo. Abriu o portão da garagem e tirou de lá a bicla. Era uma duas rodas de cor vermelha e preta que, pessoalmente ele até apreciava. Edwin levou a bicicleta à mão até à saida do edíficio, e antes de se montar no assento observou o ambiente à sua volta. A manhã suava de humidade e algum frio. Frio este, que em vez de desagradável até sabia bem pela manhã. As vidraças das casas e os carros estacionados encontravam-se encharcados. A plantação dos quintais tinha ganho uma coloração mais verde viva, era possível ainda distinguir pequenas gotas no topo das ervas.
Chegando à escola, Edwin estacionou a bicicleta trancando-a a cadeado. Ao pousar os seus pés de novo no solo sentiu o peso da mochila. Com sorte naquele dia o horário até nem era muito apertado, tendo a maior parte da tarde para andar na rebaldaria com os amigos. Entrou pelos portões e sentiu-se como se tivesse feito a escolha errada, subiu a escadaria e virou à direita ao ver o seu grupo ali ao pé.
-Já não era sem tempo Ed! Está mesmo quase a tocar.
-O importante é que cheguei a tempo.- respondeu Edwin ao seu colega.
-Ela passou mesmo agora por nós, meu. Nunca mais lhe disseste nada!
Edwin sabia a quem o seu amigo se referia com "Ela". Trish Sanders, a rapariga por quem Ed tinha um fraquinho e com quem já tinha tentado a sua sorte algumas vezes.
-E o que é que isso tem? Parem de me chatear! Vocês sabem que eu já me declarei um monte de vezes. Ela não quer saber de mim!- Ralph, um dos colegas abanou a cabeça em desaprovação.
- Aí é que te enganas! Tu sabes perfeitamente que ela também tem um fraco por ti. Tens é de lhe dizer as coisas da forma correcta.- aquela situação já o torturava à semanas. Edwin tinha tentado, sempre confiante, mas ela acabava sempre por lhe dar com os pés. Ruía-lhe o estômago quando não tinha mais que fazer. Só de pensar nela. Que desgosto.
-Estudas-te para o teste Ed?- perguntou-lhe outro colega entrando por outro assunto.
-Teste? Que teste? Não sabia de nada!- Edwin exaltou-se mas rapidamente se acalmou quando se lembrou qual era o teste.
- Há! Espera! O de Espanhol? Pfft, como se precisa-se de estudar para isso.
Naquele momento de alívio ouviu-se um ruído incomodativo que se fez soar por toda a escola. Estava na hora de começar o dia. Já dentro do edifício, Trish e as amigas passaram por eles. Edwin virou a cabeça com um tanto ou quanto de vergonha, e Ralph exclamou:
- Olha Ed é a Tr...- Edwin apressou-se a interromper o amigo para não chamar a atenção
-Esquece...-suspirou.
Edwin Brat tinha 14 anos e gostava bastante da sua vida. Cabelo preto encaracolado de que se orgulhava muito, e olhos castanhos escuros cor de café. Tinha já passado por muitas experiências e emoções, e a única coisa de que se arrependia, era de ter uma rotina bastante monótona.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

THE HUNTERS: Disturbios

A visão distorcida de Draco voltou ao normal pouco depois de acordar. Enquanto olhava em volta de si, o susto e os calafrios aumentavam. O caçador encontrava-se numa pequena sala cercado pelo vazio. Pelo aspecto sujo e poeirento do lugar de certo que ainda estaria no interior do edifício. Mas tanto podia ainda estar enfiado numa fábrica abandonada em FogCity como num velho armazém em Nova York. Levantou-se do chão lentamente, ainda sentido as dores da possível "anestesia" ao crânio. A primeira coisa que se lembrou de fazer foi verificar a orelha direita.
- Bolas! Tiraram-me o intercomunicador!- e a seguir notou que não sentia peso algum nas costas.
À sua frente destacava-se uma porta de madeira. "Com um pouco de sorte está uma bela paisagem campestre do outro lado." pensou sarcasticamente para si. Avançou para a porta e calmamente tentou rodar a maçaneta. Estava como seria de esperar, trancada. Draco recuou o máximo de passos que a apertada salinha permitia. Voltou o ombro para a frente e ganhou fôlego. Enquanto ganhava coragem receava com o que quer que estivesse para lá da porta.
- Aqui vai nada!- correu contra a porta o mais rápido possivel naquelas condições, e no momento da colisão ouviu um forte estalido que, mais que tudo, esperava ser a madeira da porta a ruir e não os ossos do seu corpo a quebrar.
Já fora daquele espaço claustrofóbico, Draco limpou as lascas e fragmentos de madeira que se tinham agarrado às suas roupas. A porta arrombada jazia à sua frente , metade para cada lado. O caçador observou o escuro fundo do corredor onde se encontrava. Com uma única escolha a tomar, e algum receio pelo que estivesse camuflado entre as sombras avançou em frente para sabe-se lá onde. Estava completamente desarmado. Não fazia ideia do tempo que tinha permanecido inconsciente, e sem intercomunicador não podia pedir ajuda. Perguntava-se acerca do seu parceiro. Onde estaria? Estaria vivo? E onde estaria ele próprio? Com um pouco de sorte ele, Draco, permanecia ainda no sétimo andar, e Frank, talvez ainda a respirar, continuava a explorar os pisos inferiores. Se ao menos se conseguisse orientar podia sair dali. A cada passo que dava, o corredor tornava-se mais frio e a respiração mais veloz.
- Ao menos ainda fiquei com o casaco.- suspirou Draco tentando animar-se a si próprio. Mas aquele local era tão quieto, escuro e medonho, que até a melhor piada do mundo não era capaz de criar qualquer riso.
Finalmente no final daquele longo corredor situava-se outra porta, desta vez não de madeira rançosa, mas de metal coberto de ferrugem. Com expectativas de não ter de arrombar mais nada, Draco girou a maçaneta. A porta deslizou suavemente gerando um desconfortável ruído metálico.
Ao contrário do corredor escuro, o espaço que Draco viu a seguir até nem estava muito mal iluminado, mas o choque foi a completa e desproposita aparência do local. A área 51 seria menos estranha. Aparelhos esquisitos cheios de pequenas luzes vermelhas e amarelas que piscavam sem fim. Grandes mesas de dissecação ensanguentadas, com pequenas mesas cheias de instrumentos para operações ao lado. Jaulas de todos os tamanhos junto ás paredes e penduradas no tecto. Mas o mais estranho de tudo eram os enormes contentores de vidro, que pareciam albergar algo no interior. Draco aproximou-se para observar a estranha criatura no interior de um dos contentores. Asquerosa e repugnante, não era muito diferente dos demónios com que ele e Frank tinham estado a batalhar este tempo todo. E então como um relâmpago, Draco juntou as peças e completou o puzzle. Era agora óbvio o objectivo dos H.I.M naquele sítio. Mas antes que tivesse tempo para pensar em mais alguma coisa, um som preocupante chamou-lhe a atenção e ele virou-se num salto. Meia dúzia de demónios asquerosos tinham-se aproximado silenciosamente enquanto ele raciocinava, e agora estava cercado e sem maneira de reagir. O coração parou mal ficou a dois passos de ser estrangulado. Ia agora viajar para a famosa morte, e o bilhete de partida não podia ser em pior classe. Quando Draco acabou por aceitar o seu destino final, a cabeça do demónio que avançava sobre ele explode em carne e veias! Com o medo, o caçador só se apercebe de tal quando o sangue esborrata a sua cara. Os outros demónios mal reagem, e antes de o corpo do primeiro cair pelo solo, os cinco restantes são executados num piscar de olhos. Draco só deixa de suster a respiração quando avista Frank a dois metros dos corpos empunhando os seus dois revólveres.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

ELEMENTAL: A Brasa e a Faísca

Olhou-me directamente para os olhos. O olhar dele era flamejante e reflectia o que estava a sentir: fúria, raiva, medo. Ele percebia que não era o único "todo poderoso" na cidade, agora tinha alguém igual que até lhe podia fazer frente. E eu sentia o exactamente o mesmo, e temia que, tal como eu estava a ser capaz de lhe ver as intenções, ele também estivesse a ver as minhas.
Os meus braços começaram a faiscar furiosamente , mas eu mal o senti, tanto era o meu estado de nervosismo naquele instante. Ele tomou aquilo como um desafio e mal eu dei por isso uma labareda passou-me por cima do crânio. Era ele que tinha má pontaria ou queria apenas gozar comigo? Em reacção ao ataque disparei instantaneamente uma descarga eléctrica na sua direcção. Era fácil até. Bastava pensar e aquilo saía automaticamente da palma da mão. A descarga acertou-lhe no peito, o rosto dele expressava perfeitamente a sua dor enquanto a corrente eléctrica se dispersava pelo corpo. Faíscas azuis a movimentarem-se eram visíveis na sua cara e membros. Mas ele não caiu, não se baixou nem se mexeu. Fechou os olhos com força enquanto lutava para suportar aquele golpe e momentos depois voltou a abri-los. Um sorriso perturbador formou-se no seu rosto enquanto olhava para mim. De repente, uma fila de chamas saiu-lhe de ambos os pés formando um circulo de fogo à nossa volta. Comecei a transpirar de medo e de calor. Estava completamente encurralado num anel de labaredas a flamejar a sei lá quantos graus com um psicopata pirócinetico. Sentia-me a desfalecer com todo aquele calor, mas tinha que me aguentar. Não podia dar o meu lado fraco. Não podia deixar que ele percebe-se que eu mal conseguia controlar a minha capacidade! A única maneira de sair vivo era intimidá-lo,dar-lhe a perceber que eu era mais forte do que na realidade era. Por isso pensei no medo que tinha, e no quão nervoso estava ali fechado. Senti a electricidade a subir pelos braços acima até à cabeça e a seguir a descer pelas pernas abaixo. Faiscava agora mais que o normal, e sentia-me até mais confiante. Mas o meu adversário não pareceu intimidado com o que eu fiz, deu para perceber quando imediatamente depois de eu me tornar numa faísca viva vi o seu corpo a pegar fogo. Era-mos agora dois elementos vivos frente a frente. Pé depois de pé, exactamente ao mesmo ritmo eu e ele andávamos em círculos pelos limites das chamas. Predador contra predador. Olhávamos-nos nos olhos, mas já não conseguíamos ver o que passava pela mente do outro, tanta raiva e determinação que estava agora à frente dos nossos sentimentos como uma sólida parede de betão. O meu medo tinha sido substituído por confiança, ia lutar pois não podia fugir. Ainda não sabia bem como o faria, mas iria enfrentá-lo. De imediato, quebrando o ritmo hipnotizante daquele círculo ele desata a caminhar na minha direcção! "O que fazer? Se ele me toca estou frito literalmente! Tenho de o impedir, conseguir que ele recue!" Não conseguia pensar em nada a não ser em pânico. Aponto as palmas das mãos contra ele, mas o que pode um pequeno relâmpago fazer contra alguém que arde dos pés à cabeça? Qual é pois a minha surpresa quando uma enorme onda eléctrica escapa das minhas mãos enquanto sinto toda a electricidade a abandonar o meu corpo. O homem flamejante é brutalmente empurrado para cima e para trás e o circulo desaparece mal ele passa os limites! Eu então começo a sentir-me fraco, frágil. Caio de frente no duro asfalto e mais uma vez começo a perder a consciência. Antes de desfalecer pensei:" Talvez quando acordar tudo não tenha passado de um sonho muito estranho." Não me importava que isso acontece-se. Mas no fundo não queria que fosse realmente assim.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

ELEMENTAL: Electrocinese 101

Enquanto passava pelas ruas largas da cidade a observar a multidão, ficava cada mais convencido que a minha nova "característica" apenas traria melhoramentos à minha vida. Olhava para um lado e para o outro sem hesitação, e apercebia-me. Tanta gente, velhos e novos, homens e mulheres, cada um diferente de sua maneira. Mas no fundo todos iguais. Cada um individualmente, aborrecidos e chatos, um bando de rotineiros enfiados num ciclone que só terminaria quando descobrissem a morte. Gente completamente hipnotizada pelo seu ambiente tão normal que dificilmente se aperceberiam do que estão a deixar passar ao lado. Mas eu não. Quantas pessoas são capazes de fazer o que eu faço? Quantas pessoas podem dizer que são completamente diferentes do resto do mundo? Estou a ver. Agora a única pergunta era: como usar o meu, digamos, dom? Estava agora embrulhado numa questão e completamente distanciado do ambiente em redor. Por essa razão mal reparei no início dos acontecimentos seguintes.
Um ligeiro tremor pelo corpo, um fraco som de explosão, e a seguir o caos. Só me lembro de um embate profundo e de labaredas. Depois não vi mais nada até acordar.
No princípio não me lembrei de nada. Só sabia que tinha acordado e que estava deitado, provavelmente na minha cama. Mas porque razão estava o colchão tão duro? Demorei três segundos a aperceber-me que não estava numa cama mas sim no duro asfalto da estrada, e o dobro do tempo a lembrar-me de uma explosão. Tentei levantar-me enquanto olhava em volta, mas um drástica mudança de paisagem deixou-me simplesmente de costas, apoiado com os cotovelos no chão. É um bocadinho difícil alguém ficar de pé ao ver uma avenida inteira completamente desfeita quando à instantes estava como outra avenida qualquer. Os edifícios que não tinham caído por terra tinham no mínimo ficado sem uma metade. Os passeios e a estrada cobriam-se agora de enormes e pequenas crateras. No local havia indícios de queima, e o mais estranho era estar completamente vazio. Se não existissem sobreviventes deviam existir ao menos corpos certo? Seria possível toda agente ter sido pulverizada? Mas então porque é que eu permanecia intacto? Finalmente olhei para trás, e o susto não podia ser maior. A cinco metros de mim, um homem que podia ser aparentemente normal, libertava do seu cabelo e das mãos um elemento alaranjado e reconhecível. Fogo.
"Como seria aquilo possível?"- pensava eu. Emitir chamas das mãos? Mas por outro lado, se eu...
O tipo virou-se para mim com cara de mau. Pena, se ele não tivesse dado por mim até podia ter-me escapado ao destino pela segunda vez hoje. Elevou a palma até ao nível da cabeça e de repente as chamas aumentaram de tamanho. Aos cinco metros de distância que nos separavam já sentia o calor do fogo, como se estivesse apenas a poucos centímetros de uma fogueira. A minha mão gerou pequenas faíscas, e a seguir um jacto de fogo saiu disparado da mão dele, aterrando decímetros ao lado da minha cabeça e criando uma pequena cratera no asfalto! Engoli em secou e rastejei uns centímetros para trás. Não conseguia fazer mais nada naquele momento! A electricidade que criava percorria agora o meu braço direito furiosamente. Ele aproximou-se uns metros e apontou-me a mão a flamejar prestes a lançar mais labaredas. Eu só era capaz de gerar electricidade! Não o podia enfrentar! Cobri instintivamente a cara com o braço direito, pensei em como tinha de me defender daquele tipo mas não era capaz de o fazer. Imediatamente depois desse que pensava ser o meu último pensamento, um relâmpago azul sai projectado da minha mão directamente contra o tronco do homem flamejante. Ele torna-se estático e caí para trás. A minha cara obteve possivelmente a expressão mais parva quando percebi o que tinha acabado de fazer. Olhei para a palma da minha mão. Uma corrente eléctrica faiscava nos meus dedos, mas não da mesma forma que das outras vezes. Eu próprio sentia-me mais diferente do que o diferente que já sentia. Apercebi-me que era mais do que o que pensava ser até ali. Eu conseguia gerar electricidade, mas também conseguia expulsá-la para outros efeitos. Não era simplesmente capaz de fazer um truque de magia. Eu tinha poder

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

ELEMENTAL: Notícias e Limões

O que fazer quando descobres ser capaz de gerar e absorver electricidade? Como reagir?
Lá estava eu, estupefacto e paralisado. As minhas mão faíscavam e a minha mente estava em branco. Por fim, 20 minutos depois veio-me a primeira questão.
- De onde raio veio isto?-horror e anormalidade vieram-me à cabeça. Como iria passar o resto da minha vida sabendo que era uma bateria viva? E mais cedo ou mais tarde alguém iria descobrir! Um tipo que brilha verde e azul das mãos não passa despercebido! Como é que eu iria explicar isto a alguém sequer? "Olá malta, belo dia! Já agora, sabiam que eu sou capaz de gerar faíscas das mãos?" não seria sem dúvida a melhor abordagem.
- Ainda por cima sou jornalista! Isto não me pode estar a acontecer!
E então nesse momento do tipo "Tens a vida toda lixada", passou-me pelos olhos toda a minha vida actual:
O ser jornalista em si, não era propriamente aborrecido. As notícias por outro lado, não se podia dizer o mesmo. Tirando todos os problemas mundiais actuais, que mais existe numa pacata e monótona cidade para contar? Política? Chato. Economia? Enfadonho. Ao olhar melhor, lá no fundo sempre quis que algo de diferente aparece-se á minha frente! E aqui estava esse diferente que procurava! Dizem que quando a vida nos dá limões, nós fazemos limonada. Bem, já tinha os limões acabados de chegar por correio expresso, agora só faltava espremer o sumo.
Olhei para o relógio da sala. Eram 14:oo em ponto e eu ainda nem tinha almoçado. Já devia estar de novo na imprensa. O que fazer? Voltar para a minha secretária e para o meu computador a trabalhar numa notícia aborrecida qualquer e assim recusar uma oportunidade? Ou ir dar uma volta para experimentar as minhas novas capacidades mas arriscar-me a ser despedido?
Levantei-me do sofá num pulo:
- Que se lixe o trabalho! Preciso de espairecer!
A porta da entrada fechou-se com força atrás mim assim que abandonei o apartamento.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

ELEMENTAL: O Acordar

Colei-me ao cadeirão do escritório e debruçei-me sobre o computador. Não havendo nada de interessante para dizer sobre esta maldita cidade numa notícia, decidi pesquisar sobre qualquer coisa que tivesse a ver com o resto do mundo. Algo que valesse uma página de jornal. Mas o que há de interessante no mundo hoje em dia, que valha a pena ser colocado nas páginas da poderosa internet? Grandes crises económicas, doenças, guerras, fomes, atentados. O suícidio da civilização em câmara lenta. Tudo assuntos já demasiado gastos. Eu queria algo de novo, de diferente. Algo que devesse ser contado a toda a gente deste mundo. Não sabia ainda que em breve iria encontrar esse algo que procurava. E muito menos, esperava que esse algo, fosse eu próprio.
Vindo do inesperado e sem razão de ser, o ecrã do computador entra em intreferência.
- Que raio se passa com esta coisa?- perguntava-me eu confuso. Numa tentativa em vão para descobrir a origem do problema verifiquei as ligações uma e outra vez. Nada.
O som do granular causado pela intreferência causava-me dores de cabeça profundas, por isso levantei-me do cadeirão. Estava a sair do escritório, ainda a escutar aqueles destúrbios horríveis, quando parou. A um metro e meio de distância da secretária já não ouvia nada. Estaria a ficar surdo? Aproximei-me de novo para verificar o estado do ecrã, e de repente, tão depressa como tinha parado, a inteferência veio novamente ao de cima. Só aquele irritante e poderoso som agudo a infiltrar-se nos meus ouvidos. A minha visão começou a distorcer, caí ao chão com tonturas e náuseas.
- Pára! Por favor, pára com isto!
Num segundo estava no chão prestes a perder a consciência, no momento seguinte estava simplesmente no chão. Novamente o barulho tinha-se dissipado como nevoeiro. Levantei-me devagar com medo que voltá-se. Olhei para o ecrã do computador uma segunda vez.
- Será que estou a perder o juízo?- pensei eu. Primeiro o telémovel que achava estar carregado, depois o computador que tanto emite disturbíos, como não os emite...
A passo rápido entrei na casa de banho e liguei a torneira. A àgua escorria naturalmente e sem anomalias. "Ao menos isso" suspirei eu. Mas assim mergulhei as mãos no lavatório, uma dor intensa que começou nas pontas dos dedos subiu pelos braços até ao meu cránio. Saltei para trás enquanto gritava, e mal aterrei os pés novamente no chão já não sentia aquilo. Esta situação já estava esquisita o suficiente, até que olhei paras as minhas mãos. Essa foi a gota que trasbordou o copo. Os meus dedos brilhavam num azul esverdeado, nas palmas das minhas mãos pequenos raios da mesma cor apareciam e desapareciam rapidamente, ligando-se entre si. Eu estava a gerar electricidade.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

ELEMENTAL: A Evolução

Qual é a sensação de poder? Deve ser bom estar á frente de uma grande companhia comercial, ou chefiar uma empresa dos media. Decidir entre a liberdade ou a punição de um condenado, dirigir um país inteiro. Mas eu não estou a falar desse tipo de poder. Ser capaz de realizar algo impossível, algo de sobrenatural, algo de fantástico. É deste tipo de poder que eu estou a falar, e ninguém sabe qual é a sensação de ser capaz de fazer algo assim, mas eu sei. Como? Perguntam vocês. Eu já tive esse tipo de poder. E tem tanto de mau como de bom.
O meu nome é Steve Buzzsaw, esta é a minha história:
O despertador tocou como em todos os dias de rotina. Com um peso na cabeça e uma preguiça no resto do corpo acabei por saltar da cama. Fiquei sentado a bocejar durante dois minutos, como se a minha vida não fosse mais do que dormir. Quem me dera. Levantei-me a olhar para o visor do despertador, eram 7 horas certas. Metia-me nojo a ideia de me ter de levantar tão cedo e tão rápido todos os malditos dias, excepto aos fins de semana e feriados. E com essa ideia a vaguear--me na mente, dirigi-me á cozinha em passo lento.
Entornei o leite frio para a malga e despejei os cereais, sentei-me na cadeira mais próxima e liguei a televisão. A minha mão movia-se quase automáticamente enquanto deslizava a colher pelo interior da malga e enfiava os cereais pelas minhas goelas abaixo. Automáticas também, eram as notícias da manhã que batiam no mesmo assunto faria já três semanas.
- A misteriosa gripe denominada agora gripe P(passageira) continua a alastrar-se pelo globo. Embora possuindo uma velocidade de contágio extraordinária, estudos indicam que esta doença não tenha consequências fatais em nenhum ser humano independentemente do seu estado. Em outras notícias...- desliguei a TV mal acabei de beber o leite alojado no fundo da malga. Levantei-me da cadeira onde estava sentado e fui preparar-me para o trabalho.
- Bom dia Steve! Como vais hoje?- O Carl era sempre o primeiro a cumprimentar-me quando chegava à imprensa.
- Vou como ontem e no dia anterior. Que há de novo?
- Tu sabes, o mesmo de sempre, nunca se passa nada nesta cidade enfadonha. É cada vez mais difícil escrever uma notícia hoje em dia.- depois de dizer isto a cara dele tomou uma expressão estranha e soltou um poderoso espirro para cima de mim.
- Tem cuidado para onde espirras pá! Não ouviste falar da nova gripe?- sinceramente não me preocupava com a tal gripe P. Se diziam que não tinha consequências fatais eu acreditava. Mas o acto de espirrar sem tapar a boca enojava-me.
- Peço desculpa. Não era minha intenção.
Passei a manhã a trabalhar num artigo pouco importante (como sempre). Era como o Carl dizia: "...nunca se passa nada nesta cidade enfadonha." Ás 12:30 quando ia a sair do edíficio, deparei-me com o John, um amigo de longa data que trabalhava na secretária ao lado da minha.
- Hey, Steve! Ainda não te vi hoje. Que tal irmos beber umas cervejas ao fim da tarde para animar depois de um dia enfiado aqui dentro?
- Parece-me bem. A gente vê-se depois de almoço.
- Sim, tenho é de telefonar para casa a dizer que volto mais tarde depois do trabalho. Até já Steve!
Já tinha virado as costas e abria agora a porta de saída, quando o Jonh me chamou novamente.
- Steve! Desculpa lá, mas é que o meu telemóvel ficou sem bateria agora mesmo e preciso que me emprestes o teu.
- Claro, na boa.- ia tirar o telemóvel do bolso, como qualquer pessoa normal faz, e foi nesse momento que começou o que vos estou a contar agora.
Olhei para o pequeno ecrã do meu celular barato antes de o emprestar e fiquei intrigado.
- Estranho. Também está sem bateria. Mas podia jurar que o tinha deixado a carregar durante a noite.