terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

The Kinsei Chronicles: Sono Kakidashi

Começa assim...
"Em tempos antigos e perigosos, quando a sociedade era guiada pela lei da espada, os pergaminhos ancestrais falam de alguém. Uma figura de mistério e respeito. Um guerreiro que embora domina-se a lâmina tão bem como as suas próprias pernas, jamais teria derramado sangue algum, de homem ou animal. E apenas esse detalhe o impedia de se tornar algo mais do que um samurai das ruas. Todos o desprezavam, embora ninguém troça-se dele pois temiam-no e respeitavam-no, como se de um herói se trata-se.
Como já tinha referido antes, aqueles eram tempos cruéis, talvez piores do que os de hoje em dia, e desde pequeno ele perguntava-se a si próprio o porquê de tanto confronto e ódio. Foi então que desistiu, e uma noite abandonou a sua aldeia. Partiu para a floresta mais próxima, um local abundante em natureza por onde as enormes pézadas da civilização nunca tinham passado, isolando-se do resto do mundo. Depois disso começaram a ouvir-se rumores, as pessoas começaram a falar, a maior parte sem sequer saber do assunto. Dizem que sozinho na floresta ele aprendeu coisas. Artes que jamais algum homem vivo podia aprender, e que iam além dos instintos de alguns animais. Ele conseguia comunicar com a natureza. As árvores, as plantas, a água, o solo. Conseguia dizer-lhes coisas, e eles respondiam à sua maneira. À sua passagem a erva crescia, e as trepadeiras propagavam-se atrás de si. Os mestres das aldeias passaram a chamar-lhe Hayashi Shinzui, o Espírito da Floresta." Otsuro mantinha estas palavras, ditas pelo sábio, na sua cabeça. Sem se esquecer de uma única letra. O San Orientaru (sol do oriente) brilhava no cume do céu. "Uma chama duradoura no meio do oceano." pensou Otsuro. O vento soprava levemente no início daquela tarde, e as folhas nos ramos das árvores dançavam ao seu ritmo. "Está um dia óptimo para dormir uma sesta no meio da erva" ocorreu-lhe, arrependendo-se da maldita hora em que tinha decidido partir naquela manhã.
A dada altura, quando o caminho batido criado por décadas de pessoas a percorre-lo e por carroças de cavalos e bois a passar deixou de se notar, Otsuro parou para descansar. Encostou-se a uma cerejeira, e tirou as sandálias. Como estava mais ou menos a meio do dia, a árvore não criava qualquer tipo de sombra. Mas ele gostava de apanhar Sol na cabeça, sentia-se confortável e despreocupado com o resto do mundo. Otsuro olhou para a cerejeira. "Pode haver paisagem mais bela nesta época do ano?" Os ramos cobriam-se de pequenas flores rosa, mais uns meses e dariam frutos. Quando esse tempo chega-se, os agricultores viriam para os colher, e os passáros para os picar. A árvore ficaria então despida de qualquer beleza até ao ano seguinte, quando o ciclo se volta-se a repetir. Otsuro deixou-se ficar perdido nestes pensamentos, até que um grunhido interrompeu a sua meditação. Há horas que não trincava nada de jeito, e um guerreiro deveria apresentar-se sempre minimamente alimentado para quando as suas energias fossem necessárias. Então sentou-se na erva e começou a petiscar dos seus mantimentos. Não era muita a comida, apenas o suficiente para uma longa caminhada e para não provocar demasiado peso. Enquanto mastigava, as palavras do sábio começaram a ecoar-lhe na mente, invadindo-lhe o pensamento. "Já ninguém tem futuro nesta aldeia jovem Otsuro. Não há espaço para um jovem samurai como tu. Os tempos tornaram-se cada vez mais malignos, e até a mais simples aldeia como a nossa se deixou corromper pelas trevas, perdendo o seu balanço no mundo. Foge criança, parte para longe daqui, pois é a única maneira de te preservares. Quem sabe, talvez nesta nova Era de loucura encontres um lugar onde Yokoshima ainda não tocou." "Yokoshima" pensou Otsuro. "A fonte de todo o mal, o que espreita em cada esquina. Aquele que assusta o mais destemido, engana o mais conhecedor, e corrói o mais humilde. Não é apenas uma crença, ele existe mesmo. Em forma física e espiritual." Acabando o seu repouso, Otsuro levantou-se calmamente, e continuou o seu caminho em direcção à floresta.
A marcha era cada vez mais difícil. As ervas tornavam-se cada vez mais altas, assim como as árvores que espalhavam os seus ramos por todo o lado. O Sol tinha deixado de brilhar, de tão enormes que as plantas e as folhas se tinham tornado. Otsuro via-se com cada vez mais dificuldade para andar. As heras e os arbustos entrelaçavam-se-lhe nas pernas, os ramos compridos começavam a formar barreiras de tão crescidos e densos que estavam, arranhando-lhe os braços. Bem fácil seria para Otsuro usar a katana para abrir melhor o caminho, mas havia qualquer coisa naquela floresta que ele respeitava bem demais para a incomodar. Tudo graças ao sábio. "A floresta que se situa a norte da aldeia. Tenta evitá-la! Se escolheres passar por lá perto, arranja maneira de passar ao lado. É um local ancestral sagrado. Por alguma razão nunca ninguém lá pôs os pês. Apenas um se atreveu a cometer tal acto, e o que resta dele são mitos. Mas para o caso de o teu espírito ser mais forte, quando lá te vires em sarilhos, declara esta palavras..." Otsuro parou de repente ao ouvir algo. Era estranho, desde que entrou naquele lugar, que a vegetação lhe parecia mexer-se. "Não é verdade" disse a si mesmo. Mas não havia dúvidas que aquele lugar tornava-se cada vez mais difícil de percorrer. Por puro cuidado, decidiu voltar para trás, antes que se perde-se ali mesmo. Ao tentar retroceder, o caminho de retorno pareceu-lhe impossivel de transpor. A vegetação parecia-lhe demasiado densa. Então como é que ele tinha chegado tão longe? Tentou outra direcção, mas por onde quer que se virá-se, ramos e trocos tapavam qualquer espaço por onde passar. Otsuro não entrou em pânico, lembrou-se das palavras do sábio, e disse:
- Eu sou o Alpha e o Omega, o primeiro e o último, o início e o fim.
Nada. Tudo estava igual. Ele continuava sem caminhos. Ponderou por uns segundos em como agir, só tinha uma solução. A katana começou a deslizar pela cintura. Não devia violar a floresta abrindo caminho à força, mas não havia outra solução. Foi então que, sem toque nem razão, a floresta começou a mexer-se. A mexer-se? Como? Simplesmente mexendo-se. Presas com as raizes ao solo, as arvores recuaram à volta de Otsuro. Os ramos ergueram-se, e as ervas enterraram-se ligeiramente. Tudo isto em simultâneo, formando um clareira onde o Sol brilhava tão naturalmente como fora da floresta. Otsuro não reagiu. Tentou perceber o que tinha acontecido. Mas fosse o que fosse, não era obra sua. Foi quando reparou que do outro lado da clareira se encontrava alguém. Uma figura que olhava directamente para ele, vigiando-o. Como se sempre tivesse ali estado.
-Tens de proferir as palavras como se tivessem algum significado. Senão não fazem efeito.- disse a figura.
Porém, Otsuro não ouvira, tinha-se focado nos seus olhos verdes escuros. Havia algo no olhar que dizia qualquer coisa. Como se identificassem a pessoa.
-Hayashi Shinzui...



quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

THE HUNTERS: A Visita

Frank achou piada o estado do seu colega. Os membros de Draco tremiam, e a face ostentava um ar traumatizante, como se ainda estivesse a ponderar acerca do que lhe tinha acontecido nos últimos dez segundos.
- Já percebeste o que se passa aqui ou ainda não chegaste lá?-perguntou Frank. Draco levantou os olhos para o colega, a sua voz era de alguém que acabava de se borrar calças.
- Estão a criar demónios no interior deste edifício. Não admira que esteja tão apinhado deles.
- "Apinhado" já não é a palavra correcta.- respondeu Frank. E passou um dos revólveres.
- Tem cuidado, só tenho as munições que estão dentro das armas. É tudo o que nos resta.
Draco acenou a cabeça em afirmação. Guardou a arma e imediatamente virou-se para o enorme laboratório à sua frente. Quem poderia ser chalado o suficiente para se dedicar a uma coisa daquelas? Algo que nunca compreendera, eram os estudos e experiências efectuados por alguns cientistas no âmbito de tentar recriar o sobrenatural. Entendidos na matéria, muitas vezes se juntavam com peritos em ciência para algo daquele tipo. Projectos doidos com um nome de código esquisito, que se destinavam a favorecer avanço militar ao governo de um país com um nome como "Estrângulorussia". Claro que não eram casos de que se ouviam falar nas fontes dos média, mas existiam por aí. E sem dúvida ofereciam a caçadores como os H.I.M trabalho para mangas.
- Eu diria para nos separarmos outra vez...-começou Frank- mas como não estou com disposição para salvar a "donzela em apuros" pela 3ªvez hoje, acho melhor ficarmos próximos.
- Vai-te catar!- apesar da graça, Draco sabia que Frank tinha razão. Não só pela dimensão a que o caso tinha chegado, mas também por falta de recursos, nomeadamente chumbo para balázios.
Os arquivos do laboratório practicamente vomitavam dóssies e pastas de ficheiros. Tudo informações de pesquisa e de progressos do que quer que se estivesse a passar dentro do edíficio. Frank tornava-se cada vez mais estupefacto a cada linha que lia. Mas só ele, porque Draco, como sempre, tinha-se aborrecido aos primeiros três minutos da busca.
- Porque é que não mandamos isto ao ar de uma vez por todas?- murmurou Draco enquanto observava de perto uma mixordia que se encontrava dentro de um recipiente.
- Desculpa?- perguntou Frank captando a atenção ao colega.
- Porque é que ainda estamos aqui sequer? Já deviámos ter explodido com este sítio há muito!
- Oh! Excelente ideia Draco!- exaltou-se Frank cheio de sarcastidade virando-se para o colega.- E explodimos o edíficio com o quê?! Com a pólvora dos cartuchos?!
- Estamos num laboratório de terroristas psicopátas! Devem existir explosivos enfiados num canto qualquer!
- Então porque não mexes o cu pela 1ª vez neste dia e os vais procurar?! Aliás, não sei se te lembras Draco, mas não nos metemos nisto por diversão. Lembra-te que estamos num caso, e não temos ideia do nosso objectivo.- de repente as luzes extinguiram-se num apagão geral. A voz irritada de Draco ouviu-se logo a seguir.
- Boa! Agora estamos practicamente ceguetas!
- Chiu!- ordenou Frank- não ouviste qualquer coisa?
Frank ligou a sua laterna e lançou um olhar a Draco, ao qual este respondeu chateado.
- Não sei se já reparaste mas eu perdi a minha junto com a arma e as munições.- Frank revirou os olhos.
Foi então que um novo ruído surgiu do nada, e até Draco o conseguiu ouvir. Frank apontou a lanterna para a direcção do som, mas o alcance da luz não era suficiente para localizar a fonte. Momentos a seguir a iluminação voltou ao laboratório. Draco e Frank congelaram assim que viram quem emitia o ruído. A uns meros metros de distância, um sujeito pálido e magro observava-os. O mesmo sujeito que se tinha encontrado com eles há umas horas atrás à entrada daquele mesmo edíficio, e a seguir os tinha abandonado tão misteriosamente.

sábado, 14 de novembro de 2009

Demon Soul: Arrepios

O despertador indicava 7:30 quando começou a tocar. Edwin entrou pela janela do quarto furtivamente. Ao abrir a sua mão direita, a espada que envergava caiu com um leve bramido no solo. Lançou-se sobre o espelho com alguma ansiedade, mas ao observar as suas pupilas acastanhadas deixou-se descontrair, e atirou-se de costas para a cama. Aquela noitada fora uma das mais espectaculares da sua vida! Percorrer a cidade de uma ponta a outra até que nem fora difícil. Principalmente por causa da sua recente velocidade demoníaca. E apanhar aqueles seres repugnantes escondidos nos cantos mais escuros! O calor do combate e a sensação de envergar a lâmina a cada golpe. Ah! Sim, a lâmina! Edwin perdera-a umas boas cinco vezes, deixando-a cair ou simplesmente escorregar enquanto atravessava os edifícios mais altos. Mas não havia problema nenhum. Assim que uma situação de perigo surgia, a espada acinzentada não tardava a vir de sabe-se lá onde, para aparecer de um momento para o outro na mão direita do seu novo dono como que invocada. Como se viesse socorrer o seu mestre, ou simplesmente sedenta de sangue, pretendendo ser usada para mais uma vez para esventrar um demónio. O mais engraçado daquilo tudo era que Edwin nem sequer estava cansado. Pelo contrário, sentia-se com se tivesse enfiado a cabeça num balde de água fria. Talvez aquela fosse a sensação normal da transição de forma normal para ser das trevas.
-Bolas! O despertador!- desligou-o ao notar que este já tocava sem parar à um minuto e meio.
Levantou-se e e decidiu preparar-se para mais da mesma rotina.
Ao passar a entrada no edifício da escola, Edwin avistou Joe. Outro dos seus colegas.
-Yo, Edwin! Como foi o sono?- pergutou Joe no gozo.
- Algo agitado.- respondeu Ed indiferente
- Tiveste pesadelos?- Edwin acenou destraidamente que sim com a cabeça, enquanto revia a sua "noitada". Joe apercebendo-se da falta de atenção do seu amigo, aproveitou o assunto para o "picar" um bocado e voltar a colocar-lhe os pés na terra.
- Ou será que a Trish te foi visitar nos sonhos?- Joe preparou-se para a reacção.
- Não sejas parvo!- exclamou Edwin.- Revendo a pergunta automaticamente na sua mente, Ed sentiu um arrepio fora do normal. Como se um monte de agulhas lhe tivessem penetrado a pele por todo o corpo. Mas sem ser necessariamente acunpultura. Mas mal se deu o toque de entrada, a linha de pensamento de Edwin quebrou-se, e a sensação parou sem que este nota-se sequer. Ele e Joe mudaram para outro assunto enquanto se dirigiam para a sala.

sábado, 31 de outubro de 2009

Demon Soul: Inferno na Terra

Edwin saiu pelas traseiras da sua casa em direcção aos ecopontos do outro lado da rua. Carregava dois sacos verdes de, supostamente, lixo doméstico. A sua mãe tinha-lhe dado um pequeno sermão acerca de chegar a casa dentro das horas combinadas, mas Edwin pouco tinha entendido disso. Tal era a curisosidade e o medo pelo acordo que tinha selado com o Diabo à umas horas atrás. Era ainda difícil de acreditar no sucedido sequer! Talvez até nem tivesse acontecido! Talvez, ele tivesse batido com a cabeça em algum lado e imaginado aquilo tudo! Sim, só podia ser isso! Estava tudo na mesma, como sempre. Amanhã iria acordar e teria um dia natural. Edwin sentiu-se mais descontraido, mas no entanto, desiludido. Suspirou e em seguida abriu a tampa do contentor. Estava uma noite gélida, e Edwin só queria despachar aquilo para voltar ao quentinho acolhedor da sua casa. Mas assim que depositou o lixo e se virou para regressar, o susto não podia ser maior. Dez criaturas vermelhas e grotescas rodeavam-no, os seus olhos a reluzir de uma coloração amarela de sinistralidade. Edwin tentou manter a calma. Recuou dois passos até ficar encostado ao ecoponto. "O que fazer?" pensou ele prestes a entrar em pânico. E de repente, todo o seu medo começou a desaparecer. Sem saber bem como estava a agir, avançou em direcção a uma das criaturas. Puxou-a pelo braço vermelho e torceu-lhe o pescoço num relampâgo. O ser caiu sem vida a seus pés. Como raio é que ele, Edwin Brat, tinha feito aquilo na perfeição, se nunca na vida teve lições de combate? Quando voltou a prestar atenção ao facto de estar cercado, um deles tentou o ataque de frente. Edwin fintou-o agilmente, mais uma vez sem saber como o fazia, quase por instinto. Agitou o braço na direcção da criatura, e esta dividiu-se diagonalmente em dois esvaindo-se em sangue. "Mas como?" perguntou-se Edwin a si próprio. Quando finalmente notou, uma espada longa e acizentada agora molhada com tripas era envergada na sua mão direita.
-Ok, tenho a certeza que não trazia nada disto quando saí de casa!-exclamou Edwin mais passado do que já estava. Uma espada que ele nunca tinha visto antes não podia aparecer assim do nada e ir parar às suas mãos! Mas vendo bem, também não era costume ele lutar da maneira como o estava a fazer agora. Ao contemplar a espada, Edwin observou o seu reflexo na lâmina, e notou algo de ligeiramente diferente no seu rosto. Não teve tempo de se examinar melhor, pois nesse momento outra criatura vermelha saltou-lhe para cima! Ed virou a espada para a frente, empalando o ser grotesco. A cara sem vida , pendurada, fixando-o com aquele olhar morto, com olhos que ainda assim se iluminavam no escuro. Era macabro, mas Edwin sentia-se bem! Um calor, acompanhado por um sentimento de confiança subiu-lhe pelo corpo, confiança até demais. Sentia-se a escaldar!
-Venham a mim, seus grandes filhos da...- antes de acabar de bramir a frase completa, as criaturas já estavam todas a saltar-lhe à cara!
Edwin avançava e recuava enquanto habilmente sacudia a espada para todos os lados! O que fazia naquele momento, era practicamente ao calhas, mas os cortes que executava saíam limpos e fluídos, projectando sangue e membros amputados para fora da sua direcção. Meros segundos depois parou, algo que se sucedeu tão depressa como quando ele tinha começado. Edwin observou o cenário à sua volta. Sangue e corpos avermelhados decoravam o alcatrão negro da estrada.Tinha-os despachado a todos com profissionalidade, mas no entanto, ele nunca tinha feito aquilo. Enquanto se perguntava acerca de tudo o que estava errado naquela situação, mesmo à sua frente , no meio do nada surge-lhe de novo o Diabo. Este olhou para as criaturas chacinadas antes de dirigir uma palavra. Um ar de satisfação invadiu-lhe o sorriso ao ver aquele cenário terrível.
-Então, gostaste do Test Drive?- o rosto do Diabo estava coberto por um capuz, mas a sua voz grave e amplificada chegavam para causar arrepios.
-Importas-te de me explicar isto?-respondeu Edwin ainda não percebendo nada.
O Diabo fixou Edwin e tomou um ar mais descontraído, dirijindo-se com uma voz relaxada:
-Caro Ed, isto é o que tenho para te oferecer.
-Isto?-Edwin apontou para a espada que erguia.-O que raio faço com isto?
-Não se trata apenas disso!-fez uma pausa-Não o sentiste?
-Sentir o quê?- Edwin permanecia confuso, mas começava já a encaixar algumas peças.
-A força, a agilidade, a graciosidade. O poder!- o Diabo tirou delicadamente a espada a Edwin e colocou-a a centímetros da cara do rapaz. O ferro da espada era bem trabalhado, a lâmina, afiada e perfeita, estava agora tingida de vermelho pelo sangue derramado. Edwin obervou o seu reflexo brilhante, e apanhou um choque imenso. A sua pele era mais pálida que o costume, o seu cabelo encaracolado levantava-se como se se tivesse gel, e os seus olhos antes castanhos escuros, eram agora vermelhos. Sem púpila ou íris, um completo vermelho vivo brilhante ocupava os seus olhos cheios.
-Estou horrendo!-gritou Edwin-O que me fizeste?
-Não te preocupes, rapaz. Essa aparência desaparece quando não precisas de "o" usar. Afinal de contas, todos os demónios precisam de uma forma humana para vaguear por este mundo à vontade, não é?
Edwin exaltou-se ainda mais depois de o Diabo terminar de proferir a frase.
-O que queres dizer com forma humana?
O diabo mudou para um tom mais sério:
-Edwin, tu querias diferença. E a única maneira de eu te tornar único à parte dos outros era tornar-te num demónio.
-Não! Eu não concordei com nada disto! Muda-me de volta, já!
-Espera, não te percepites.-o tom de voz do Diabo era outra vez calmo e sereno.-Ainda não sabes todos os pormenores. Tu és um demónio, tens poderes sobrenaturais e uma espada brilhante muito especial como bónus. A passagem da forma humana para forma demoniaca é bastante simples, e a única coisa que te peço, é que me faças um pequenino favor em troca.- Edwin desconfiou bastante destas últimas palavras.
-Que favor?
-A única coisa que te peço é que tires umas horitas do teu horário nocturno para caçares alguns demónios que, vá-se lá saber porque, acham-se melhores que o meu ser.
-Queres que seja o teu lacaio? Já vi tudo.
-Pensa no que és capaz de fazer com isso! Já o experimentaste, não já? Não te soube bem?
Edwin ponderou por algum tempo. Por um lado tornava-se num ser demoniaco do inferno. Não era exactamente o sonho de toda a gente. Mas por outro, o poder que isso significava, a diferença que isso faria na sua vida!
-Ok, eu aceito.
-Ainda bem.-o Diabo entregou a espada de volta a Edwin.
Ed contemplou mais uma vez o reflexo da sua forma demoníaca na lâmina. Os seus olhos vermelhos assustavam-no sobretudo. Mas ele teria de se habituar àquela aparência. No fim de contas iria ter de a usar por parte do tempo dali para a frente. O Diabo estendeu-lhe a mão, e Edwin apertou-a. Mais uma vez, aquele calor a subir-lhe pelo corpo acima.
-Quando é que começo?-perguntou
-Agora mesmo.-respondeu o Diabo.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Demon Soul: O Pacto

No final daquele dia, Edwin decidiu voltar logo para casa, a pé. De vez em quando ele apreciava dar uma volta sozinho para pensar acerca de outros assuntos que não escola, trabalho ou amores. Era então nesses momentos que a sua imaginação se soltava para além do possível. E foi então que em pleno pensamento, Edwin virou para um beco escuro sem se aperceber.
-Espera, onde me fui eu meter?- perguntou-se Edwin a si próprio quando chegou ao final do beco.
De repente e sem aviso, o Sol encobriu-se nas nuvens escuras tornando aquela tarde quente num mau dia. A pouca luz que incidia no beco deixa de existir, e Edwin apercebeu-se que algo de errado se passava. Ele olhou à sua volta, uma, duas, três vezes. Mas só à quarta vez é que reparou neles. Seis vultos encapuçados rodearam-no de surpresa. "Seram gatunos, membros de um gang que me vão roubar as coisas todas?" pensou ao início. Mas depois reparou que havia algo de estranho, quase de errado com as figuras. Vendo-se sem escapatória possível, entrou em pânico e correu contra o vulto que tapava a única saída! Estava com esperança de conseguir derrubá-lo e abrir caminho à força! Mas a figura nem se quer se mexeu. Edwin sentiu-se como se tivesse embatido contra uma parede a toda a velocidade. Atordoado da pancada, mal sente o empurrão que sofre a seguir contra o solo. E a ultima coisa que vê, são seres indescritíveis a sair disparados dos capuzes em sua direcção.
"Edwin... ou Edwin..."
- Quem?!- Edwin acorda de uma vez, sentido as correntes a prenderam-lhe os braços contra a parede. Conseguia observar à sua volta uma sala com aspecto de masmorra, e um cheiro a bolor entranhava-se no seu nariz.
- Eu não me lembro de vir aqui ter.- disse a si próprio suavemente tentando acalmar-se do choque.
Antes que tivesse tempo para sequer pensar em algo mais, uma figura encapuçada como as do beco surge-lhe à frente, do pó. Com uma única diferença, pois esta era maior e mais assustadora.
- Sê bem-vindo Edwin Brat.- a voz da figura era grave e parecia amplificada.
-Eu não me lembro de aceitar nenhum convite, amigo.- Edwin tentava parecer descontraído para com o tipo. Podia ser uma ideia estúpida. Mas talvez consegui-se intimidar o seu raptor.
-Edwin, eu sou aquele a quem chamam o Diabo.- aquela afirmação deu a Ed uma vontade de rir imensa. Que pessoa perturbada era esta para afirmar ser um ser mitológico como aquele?
-Diabo? Claro que és! Deves pensar que tenho cinco anos, não?
A mão do indivíduo saltou sobre o pescoço de Edwin, uma mão gelada que dava a sensação de estar morta. Edwin reparou na coloração do braço. Era vermelho escuro.
-Pirralho insolente! Duvidas da minha palavra? Eu já te ensino!- Edwin sentia a mão fria a fechar-se, apertando-lhe o pescoço lentamente.
A respiração de Edwin foi imediatamente cortada, mas como tinha as pernas soltas conseguiu desferir um pontapé que acertou em cheio no estômago do captor. Este então contraiu-se para trás em dor, e com a agitação, o seu capuz caiu para o lado. A cara da criatura era simplesmente repugnante demais para ser descrita. Era impossível alguém se maquilhar suficiente bem, ou ter uma máscara suficientemente profissional para se parecer com aquilo. O sujeito que estava de pé a frente de Ed, era sem margem de dúvida algo do outro mundo.
-Agora já acreditas?-Edwin sentiu um choque nos membros, como se tivesse sido atraído pela parede como um íman. Os olhos vermelhos cintilantes e sem pupila daquele ser perturbavam a mente de Ed.
-Edwin, estive a observar-te de a alguns dias para cá.-retomou o Diabo num tom calmo mas ainda com a sua voz exageradamente grave e amplificada.
-Não tens muitas razões de queixa , pois não rapaz? Amigos, casa, família, uma miúda que apesar de te rejeitar a maior parte do tempo tem um fraquinho por ti. Há! Espera, parece que apesar de tudo existe uma coisa que te aborrece, não é?- o tom de voz do Diabo tornava-se cada vez mais malicioso a cada palavra que cuspia.
-Falta-te aquele sentimento do pouco habitual. Aquilo que te tira a monotonia diária. Certo?
-Bem, pode-se dizer que sim.-confessou Edwin com alguma desconfiança.
-E se eu te disse-se que te posso encher esse vazio infestado com a rotina do dia-a-dia? Que eu te posso tornar diferente de uma maneira que nunca pensaste antes?
Edwin revirou os olhos e respondeu:
-Porque razão havia eu de confiar no Diabo? Porque havias tu de me ajudar sequer?-o diabo entendeu logo onde Edwin queria chegar com aquela conversa.
-Ora jovem rapaz. O folklore popular tem-te dado voltas ao cérebro! Eu não sou assim tão mesquinho como toda a gente faz entender! A minha única intenção é tirar-te a monotonia do espírito. Fazemos assim, experimentas uma vez, se não gostares volta tudo ao normal.
As correntes desfizeram-se e Edwin conseguiu finalmente aterrar os pés no chão. Ao olhá-lo dos pés à cabeça, estigmatizou que o Diabo devia no mínimo ter uns dois metros. Este estendeu-lhe a mão vermelha escura com um sorriso de alguém em quem não se pode confiar.
-Então Eddie? O que dizes?
Edwin apertou a mão gélida do Diabo em concordância. Sentiu um calor ardente a subir-lhe pelo corpo, e mal teve tempo de reparar, estava estendido no chão de volta ao beco.
Levantou-se e olhou em seu redor. Era já de noite, e conseguia ver as luzes dos postes nas ruas.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Demon Soul: Ele e Ela

Esta improvável história que estou prestes a contar perde-se pelos limites do tempo. A sua data é incerta. Até podia ter-se passado neste presente, ou talvez uns anos mais à frente no futuro, quem sabe talvez umas décadas atrás no passado. Mas indiferentemente do ano, a sua única pista indicando o tempo, é que se passa algures por perto desta data de 31 de Outubro.
Naquela noite fria de chuva o vento batia nas janelas e estores do bairro nº75 dos subúrbios de Strangeopolis. As águas, criando pequenas correntes nas estradas e passeios à medida que se acumulavam, escorriam para os esgotos da cidade sem parar. Em breve pela alvorada, as tampas dos canais subterrâneos transbordariam, inundando as ruas mais pequenas e estragando o dia a algumas pessoas assim que acordassem.
Edwin Brat não precisou de despertador naquela manhã gélida. O dilúvio da noite anterior tinha sido barulhento o suficiente para o impedir de pregar olho por momentos que fosse. Devagar e algo ansioso como em todas as manhãs de semana, levantou-se do colchão afastando os lençóis para o lado e bocejando por momentos. Observava o seu quarto desarrumado enquanto pulava da cama e se espreguiçava pensado no momento em que se tinha ido deitar no dia anterior. Invejava o sua figura do passado prestes a deitar-se para descansar durante 8 horas seguidas, mas tentou desviar esse assunto e pensar no dia que ainda tinha pela frente. Um dia de aulas nunca era muito animador para quem quer que fosse. Especialmente para ele que mais que tudo gostava de ter a sua liberdade em vez de ficar limitado a um horário estúpido.
Depois de tomar banho, vestir-se e tomar a sua tradicional malga de cereais, Edwin pegou na mochila e dirigiu-se com cuidado à garagem. Ao sair de casa teve o cuidado de não fazer barulho, pois sabia que a sua mãe tinha um sono leve. Desceu a escadaria do 2º andar até ao piso mais baixo. Abriu o portão da garagem e tirou de lá a bicla. Era uma duas rodas de cor vermelha e preta que, pessoalmente ele até apreciava. Edwin levou a bicicleta à mão até à saida do edíficio, e antes de se montar no assento observou o ambiente à sua volta. A manhã suava de humidade e algum frio. Frio este, que em vez de desagradável até sabia bem pela manhã. As vidraças das casas e os carros estacionados encontravam-se encharcados. A plantação dos quintais tinha ganho uma coloração mais verde viva, era possível ainda distinguir pequenas gotas no topo das ervas.
Chegando à escola, Edwin estacionou a bicicleta trancando-a a cadeado. Ao pousar os seus pés de novo no solo sentiu o peso da mochila. Com sorte naquele dia o horário até nem era muito apertado, tendo a maior parte da tarde para andar na rebaldaria com os amigos. Entrou pelos portões e sentiu-se como se tivesse feito a escolha errada, subiu a escadaria e virou à direita ao ver o seu grupo ali ao pé.
-Já não era sem tempo Ed! Está mesmo quase a tocar.
-O importante é que cheguei a tempo.- respondeu Edwin ao seu colega.
-Ela passou mesmo agora por nós, meu. Nunca mais lhe disseste nada!
Edwin sabia a quem o seu amigo se referia com "Ela". Trish Sanders, a rapariga por quem Ed tinha um fraquinho e com quem já tinha tentado a sua sorte algumas vezes.
-E o que é que isso tem? Parem de me chatear! Vocês sabem que eu já me declarei um monte de vezes. Ela não quer saber de mim!- Ralph, um dos colegas abanou a cabeça em desaprovação.
- Aí é que te enganas! Tu sabes perfeitamente que ela também tem um fraco por ti. Tens é de lhe dizer as coisas da forma correcta.- aquela situação já o torturava à semanas. Edwin tinha tentado, sempre confiante, mas ela acabava sempre por lhe dar com os pés. Ruía-lhe o estômago quando não tinha mais que fazer. Só de pensar nela. Que desgosto.
-Estudas-te para o teste Ed?- perguntou-lhe outro colega entrando por outro assunto.
-Teste? Que teste? Não sabia de nada!- Edwin exaltou-se mas rapidamente se acalmou quando se lembrou qual era o teste.
- Há! Espera! O de Espanhol? Pfft, como se precisa-se de estudar para isso.
Naquele momento de alívio ouviu-se um ruído incomodativo que se fez soar por toda a escola. Estava na hora de começar o dia. Já dentro do edifício, Trish e as amigas passaram por eles. Edwin virou a cabeça com um tanto ou quanto de vergonha, e Ralph exclamou:
- Olha Ed é a Tr...- Edwin apressou-se a interromper o amigo para não chamar a atenção
-Esquece...-suspirou.
Edwin Brat tinha 14 anos e gostava bastante da sua vida. Cabelo preto encaracolado de que se orgulhava muito, e olhos castanhos escuros cor de café. Tinha já passado por muitas experiências e emoções, e a única coisa de que se arrependia, era de ter uma rotina bastante monótona.