segunda-feira, 28 de setembro de 2009

ELEMENTAL: A Brasa e a Faísca

Olhou-me directamente para os olhos. O olhar dele era flamejante e reflectia o que estava a sentir: fúria, raiva, medo. Ele percebia que não era o único "todo poderoso" na cidade, agora tinha alguém igual que até lhe podia fazer frente. E eu sentia o exactamente o mesmo, e temia que, tal como eu estava a ser capaz de lhe ver as intenções, ele também estivesse a ver as minhas.
Os meus braços começaram a faiscar furiosamente , mas eu mal o senti, tanto era o meu estado de nervosismo naquele instante. Ele tomou aquilo como um desafio e mal eu dei por isso uma labareda passou-me por cima do crânio. Era ele que tinha má pontaria ou queria apenas gozar comigo? Em reacção ao ataque disparei instantaneamente uma descarga eléctrica na sua direcção. Era fácil até. Bastava pensar e aquilo saía automaticamente da palma da mão. A descarga acertou-lhe no peito, o rosto dele expressava perfeitamente a sua dor enquanto a corrente eléctrica se dispersava pelo corpo. Faíscas azuis a movimentarem-se eram visíveis na sua cara e membros. Mas ele não caiu, não se baixou nem se mexeu. Fechou os olhos com força enquanto lutava para suportar aquele golpe e momentos depois voltou a abri-los. Um sorriso perturbador formou-se no seu rosto enquanto olhava para mim. De repente, uma fila de chamas saiu-lhe de ambos os pés formando um circulo de fogo à nossa volta. Comecei a transpirar de medo e de calor. Estava completamente encurralado num anel de labaredas a flamejar a sei lá quantos graus com um psicopata pirócinetico. Sentia-me a desfalecer com todo aquele calor, mas tinha que me aguentar. Não podia dar o meu lado fraco. Não podia deixar que ele percebe-se que eu mal conseguia controlar a minha capacidade! A única maneira de sair vivo era intimidá-lo,dar-lhe a perceber que eu era mais forte do que na realidade era. Por isso pensei no medo que tinha, e no quão nervoso estava ali fechado. Senti a electricidade a subir pelos braços acima até à cabeça e a seguir a descer pelas pernas abaixo. Faiscava agora mais que o normal, e sentia-me até mais confiante. Mas o meu adversário não pareceu intimidado com o que eu fiz, deu para perceber quando imediatamente depois de eu me tornar numa faísca viva vi o seu corpo a pegar fogo. Era-mos agora dois elementos vivos frente a frente. Pé depois de pé, exactamente ao mesmo ritmo eu e ele andávamos em círculos pelos limites das chamas. Predador contra predador. Olhávamos-nos nos olhos, mas já não conseguíamos ver o que passava pela mente do outro, tanta raiva e determinação que estava agora à frente dos nossos sentimentos como uma sólida parede de betão. O meu medo tinha sido substituído por confiança, ia lutar pois não podia fugir. Ainda não sabia bem como o faria, mas iria enfrentá-lo. De imediato, quebrando o ritmo hipnotizante daquele círculo ele desata a caminhar na minha direcção! "O que fazer? Se ele me toca estou frito literalmente! Tenho de o impedir, conseguir que ele recue!" Não conseguia pensar em nada a não ser em pânico. Aponto as palmas das mãos contra ele, mas o que pode um pequeno relâmpago fazer contra alguém que arde dos pés à cabeça? Qual é pois a minha surpresa quando uma enorme onda eléctrica escapa das minhas mãos enquanto sinto toda a electricidade a abandonar o meu corpo. O homem flamejante é brutalmente empurrado para cima e para trás e o circulo desaparece mal ele passa os limites! Eu então começo a sentir-me fraco, frágil. Caio de frente no duro asfalto e mais uma vez começo a perder a consciência. Antes de desfalecer pensei:" Talvez quando acordar tudo não tenha passado de um sonho muito estranho." Não me importava que isso acontece-se. Mas no fundo não queria que fosse realmente assim.

Sem comentários:

Enviar um comentário