segunda-feira, 27 de julho de 2009

THE HUNTERS: Amizade

- Draco! Draco! Estás aí? Draco!
Frank começava a ficar preocupado. Draco poderia ser o mais desleixado e desvairado, mas em tantos casos resolvidos nunca tinha deixado cair uma chamada de intercomunicador.
- Draco! Atende!- Frank sentia-se em pânico pela primeira vez em tantos anos, nunca isto tinha acontecido, eles eram profissionais. Seria apenas um mau sinal de rede, ou poderia Draco ter sido posto inconsciente por alguma coisa? Talvez mesmo morto. Frank sempre colocara a hipótese de morte quando Draco perdia os sentidos, ou quando este baixava a guarda, Frank ameaçava-o que o deixaria à morte caso fosse apanhado de supresa. Mas isso era tudo dito sem intenção. Sabia que o seu colega conseguia tomar conta de si o suficiente para não ser ferido mortalmente numa luta, ou distrair-se demasiado numa situação de risco. Mas aparentemente desta vez, Frank estava errado.
Ia desligar o intercomunicador que ainda emitia aquele som distorcido de chamada caída, quando um novo ruído agudo lhe chamou a atenção.
- Draco? És tu? O que se passa aí em cima afinal?
Uma gargalhada sinistra ecoou a partir do intercomunicador pelo corredor onde Frank se encontrava. O caçador de imediato soube o que devia fazer. Recarregou os dois revólveres com as últimas munições disponíveis, ajeitou o seu casaco e tirou os óculos de sol da vista.
Os olhos castanhos de Frank brilhavam de decisão e coragem, um brilho tão forte que se destacava nas sombras daquela já escura fábrica. Quem quer que fosse o sujeito ou a criatura que teria emitido a gargalhada, era sem margem de dúvida o fundo da questão daquilo tudo. A razão desconhecida pela qual os H.I.M se encontravam naquele local, naquele momento. E essa razão tinha capturado o Draco.
- Salvo o meu parceiro e mato o estupor. Dois em um. Nada mais fácil.
Frank avançou pelo corredor húmido a passo rápido, direito ao elevador. Ao entrar na caixa de metal enferrujada pelo tempo não pensou duas vezes, determinado e a transpirar de confiança, Frank premiu o botão que dizia "Sétimo andar".
- Chegou a hora de terminar o serviço.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

THE HUNTERS: Sozinho no Escuro

O demónio corria o mais possível que as suas pernas deformadas lhe permitiam correr. O seu alvo encontrava-se do outro lado da sala, quieto e de costas. Não se iria aperceber de nada. A criatura debatia-se em cansaço enquanto corria, esperava conseguir empurrar a vitima contra o solo e esmagá-lo. Estava a dois metros de distância quando saltou o mais alto que conseguia. Podia ser um demónio horripilante, mas, tal como todos os outros, possuia capacidades sobrenaturais impressionantes que valiam mais que o seu aspecto. Frank virou-se em centésimos apontando uma das armas e disparando violentamente. O crânio do demónio desfez-se em sangue e miolos. Seria um alvo fácil, demasiado fácil se a besta tivesse pensado nisso. Mas os demónios não pensam. E esse era o problema deles. O corpo da criatura que se balançava no ar a meio de uma salto parou, caíndo como se atraído por um íman. Frank vislumbrou a sala onde se encontrava. Montes de cadáveres demoníacos jaziam inertes, criando um ambiente de desconforto decorado com o vermelho de sangue. O caçador encontrava-se numa sala no terceiro piso do edificio. Ainda não tinha encontrado nada que lhe fosse útil, que lhe desse uma pista do que deveria fazer ali.
- Talvez o Draco esteja a ter melhor sorte que eu.-suspirou- Espero ao menos que ainda esteja vivo.
Draco encontrava-se sentado num cadeirão velho que cheirava a mofo. Os pés estavam apoiados numa secretária de mogno toda riscada e suja. Mesmo assim, era o mais confortável que podia estar num local como aquele. Tinha-se dirigido ao último andar à uma hora atrás. Deu uma olhadé-la a uns ficheiros velhos que encontrou no chão e desistiu. Sem sinais do sobrenatural nem ocorrências estranhas, dirigir-se ao último andar de seguida fora a melhor ideia que poderia ter. E embora o seu parceiro pudesse estar enfiado num mar de demónios uns andares abaixo, Draco não estava com peso na consciência, pois sabia que Frank era perito a lutar contra o oculto, e caso necessita-se de ajuda sempre tinha o intercomunicador. Mas Draco não queria pensar sequer em ter de ir socorrer o amigo. Só o trabalho que isso daria.
O decanso não durou muito mais, ao ouvir um som agudo Draco levantou-se do cadeirão e activou o intercomunicador.
- Diz Frank. Precisas de ajuda?
- Estou bem obrigado. Apanhei uns obstáculos mas nada demais. Só a confirmar para o caso de teres encontrado alguma coisa aí em cima.
Draco parou de pensar, tinha prometido a ele próprio que descansaria quinze minutinhos e voltaria logo de seguida a inspeccionar o andar. Mas já lá iam quinze minutos à muito tempo. Começou a passar a mão e a amachucar umas folhas em cima da secretária, para dar a entender pelo som que Frank ouvia, que estava a fazer o seu trabalho.
- Estou a investigar umas pastas cá em cima, mas ainda não encontrei nada de interessante.- na verdade para além de um ou dois ficheiros espalhados pelo chão, não havia mais nada que captásse alguma atenção. Todas as salas e corredores do último andar estavam vazios. Não havia mobília nenhuma e não se ouvia um ruído. Draco encontrava-se precisamente num escritório que deveria pertencer ao antigo dono da fábrica, e para além da secretária e do cadeirão, também não havia mais nada para ver. Só uma grande janela de vidro para o corredor é que dava ao sítio uma aparência diferente.
Draco desviou o olhar para a janela, e podia jurar que tinha visto um vulto a passar rapidamente. Segundos depois, a fraca iluminação do escritório apagou-se.
-Frank.-disse Draco em voz baixa pelo intercomunicador- eu já te ligo.
-Draco, o que se passa? Aconteceu alguma coisa?
Passaram-se segundos sem resposta, o que deixou Frank preocupado, mas por fim Draco respondeu.
-Nada, não se passa nada. E é isso que me preocupa.
A chamada do intercomunicador caiu. Frank só conseguia ouvir dísturbios de som.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

THE HUNTERS: Sobrevivência

O demónio de aspecto macabro aproximava-se dos H.I.M. Apesar de ser lento, a sua aparência bastava para paralisar os Caçadores, que se sentiam chocados e arrepiados. Pata depois de pata, a besta caminhava com dificuldade soltando grunhidos agressivos.
Tens alguma ideia Frank?- perguntou Draco paralizado pelo medo.
Tenho duas!- Frank sacou dois revolvéres de dentro do casaco e diparou furiosamente contra o demónio.
A criatura não fez um ruido enquanto era abatida, esperneou um bocado, e morreu. O seu corpo inanimado era repulsivo. Mas, de certa maneira, havia sempre a curiosidade de olhar. Era algo de diferente, de novo. É claro que para os H.I.M já fazia parte da rotina. Criaturas grotescas apareciam sempre quando menos se esperava, era sempre necessário estar alerta e manter a calma. Coisa que para dois caçadores do paranormal profissionais ainda era complicado de vez em quando.
- Já te esqueceste que estás armado?- perguntou Frank a Draco. Este ultimo tirou a caçadeira que tinha pendurada nas costas do casaco
- É bom que te lembres de reagir a partir de agora Draco. Eu não estou com paciência para estar a proteger-te do que te aparece pelas costas.- dito isto ambos começaram a caminhar pelo edifício.
Os corredores eram húmidos e escuros. A bateria das lanternas não era das melhores, e tanto Draco como Frank tinham poucas munições de reforço. Para sobreviverem a mais um caça teriam de trabalhar em equipa e partilhar os recursos de defesa que tinham. Já se tinham confrontado com situações semelhantes, era normal neste ramo de investigação. Mas o factor do trabalho de equipa podia tornar-se mais complicado que a situação em si. Frank e Draco eram completamente e sem margem de dúvida, os opostos um do outro. Draco tinha a cabeça quente, tanto entrava em pânico imediato como começava um frenesim descontrolado. Aspecto que quando perante uma situação perigosa e arriscada, dava jeito. Frank pelo contrário, era uma cabeça fria. Calmo e confiante, enfrentava os obstáculos da sua profissão com uma arma na mão, e um sorriso malicioso na cara.
Ao chegar ao fim de um corredor, os caçadores deram de caras com uma porta automática de metal.
- Um elevador!- soltou Draco com alívio- Podemos percorrer o edifício muito mais depressa até ao topo!
- Lembra-te que não fazemos ideia do que é suposto fazermos aqui. Podemos ter que limpar o edifício completo destes demónios. Nesse caso, eu sugeria explorarmos todas as áreas da fábrica.
Draco não queria explorar nada. Não lhe apetecia percorrer salas a abarrotar com seres demoníacos. Era para ele muito mais fácil dirigir-se ao último andar e esperar que o que quer que fosse o objectivo da missão, se encontra-se ali, ou que viesse lá ter com ele.
- Então fazemos assim, tu ficas aqui a explorar o local, e eu subo no elevador para outra zona.-sugeriu
Frank demorou uns segundos a concordar, mas depois assentiu:
- Tudo bem, mas liga o intercomunicador e mantêm o contacto.
As portas automáticas abriram-se e Draco entrou no elevador. Havia um cheiro esquesito que abundava no interior da caixa metálica.
- Têm cuidado contigo parceiro.- disse Frank com um tom preocupado.
Draco fez um aceno parecido com uma continência.
- Sempre alerta, chefe.
A porta do elevador fechou-se silenciosamente.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

THE HUNTERS: O Encontro

O local era uma autêntica lixeira. Não importava para onde se olha-se, bocados de papel e plástico decoravam as calcetadas de RumorCreek, o local para onde os H.I.M supostamente se deveriam dirigir. A rua estava vazia, pequenos edíficios com ar antigo completavam a paisagem, mas de resto nada. Uma ausência de som e vida.
-Tens a certeza que é aqui?-perguntou Draco inpaciente. Estava sempre pronto para uma caça ao paranormal, e quando surgia uma oportunidade não descansava até estar prestes a ser desgoelado por um vampiro ou um demónio, e nesses momentos acabava por se arrepender do emprego que tinha.
-Sim, este é local do bilhete.-respondeu Frank
O vento soprava forte naquele dia. As caudas dos casacos pretos dos H.I.M dançavam ao ritmo da brisa. De repente, uma figura saiu de um beco escuro. Era magro e parecia agitado, tal como no dia anterior.
-Vieram! E mesmo a tempo.-a ansiedade e nervosísmo do cliente só indicavam para a pior situação.
Então qual é o caso?- perguntou Frank
O caçador não obteve resposta. O sujeito virou costas e começou a caminhar. Frank e Draco suporam que o deveriam seguir.
Os três percorriam rapidamente as ruas entre as habitações de aspecto antigo. Se é que alguém ainda habitava naquelas casas antigas. Cada uma delas era semelhante à outra de certa maneira. E todas elas aperentavam estar vazias, completamente. O facto de serem antigas e velhas podia contribuir para aparentarem um ar assombrado, mas não. Nem vida, nem morte existiam naquelas casas tristes.
-É aqui.- disse o cliente de um momento para o outro. Os H.I.M estavam tão destraídos a observar aquele ambiente de desanimo, que apenas segundos depois de serem chamados à atenção, é que repararam que estavam perante um grande edíficio industrial abandonado.
Os calafrios passaram pelas peles de Draco e Frank enquanto contemplavam a fábrica. Ao contrário das outras casas tristes, estas instalações metiam arrepios. Não importava quanto tempo um caçador do sobrenatural estava no seu ramo, ou quantos casos tinha resolvido e enfrentado. Havia sempre algum receio que se instalava sempre.
-Entrem, rápido. Quanto mais depressa melhor!- O sujeitinho abria uma pequena porta de entrada.
Os H.I.M caminharam para a entrada , e, mal os dois se encontravam no interior, Frank lembrou-se de algo crucial.
-Desculpe caro senhor, ainda não nos disse de que é que estamos à procu...
A porta fechou-se com um estrondo, a escuridão abateu-se sobre os caçadores. Ligaram as lanternas de bolso para verem alguma coisa. Como não tinham outra escolha, avançaram. Os corredores eram húmidos e sinistros. Não se ouvia nada nem ninguém, um silencio de medo.
-Só não compreendo uma coisa.- disse Draco cortando o silencio- Um tipo estranho leva-nos a um local onde nem o paranormal parece habitar, tranca-nos numa fábrica aparentemente assombrada, mas não nos diz o que pretende que nós façamos em relação a isto nem qual é o problema em questão. Não bate certo.
O raciocínio de Draco foi interrompido por um som perturbador. Uma figura de alguém ou de qualquer coisa movia-se para além do alcance das lanternas.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

THE HUNTERS (os caçadores)

A brisa daquela gélida manhã soava a algo diferente. Um arrepio que nada tinha a ver com as condições climatéricas. Um sentimento de medo percorria as ruas de FogCity, mas não no número 13 de FreakyStreet, onde o anormal já era uma rotina.
Frank apagou o cigarro no cinzeiro da secretária e baixou os óculos de sol para analisar melhor a aparência do novo cliente. Era magro, de aspecto banal e parecia estar um tanto ou quanto agitado com a vida.
- Posso confiar em vocês?- perguntou ele com insegurança
Seria de esperar uma pergunta destas vinda de um tipo aborrecido igual a muitos. Na verdade já era hábito ouvir esta pergunta de toda a gente que vinha bater à porta. Mas ninguém os censuraria, pessoas comuns não estão habituadas a este ramo da investigação.
- Pode sempre contar com os H.I.M, chefe.- respondeu Frank que esperaria agora outra questão
- Os quem?
Draco, o colega de Frank, suspirou, e não tardou a responder à visita.
- H.I.M: Hidden. in. Manners. Somos os melhores, e talvez os únicos caçadores do paranormal que encontrará nesta cidade simplória.
O sujeito magro e agitado não disse nem mais uma sílaba. Entregou um papel rasgado com uma morada e uma hora marcada antes de abandonar o escritório. Frank leu o papel silenciosamente e a seguir fez-se silencio por segundos.
- Preparado para agir, parceiro?- perguntou Draco, quebrando o silencio
- Agimos amanhã. É o que esta indicado nestes gatafunhos.- respondeu Frank apontando para o bocado de papel.
Frank e Draco foram sempre fora do comum. Pelo menos até onde a pouca gente que os conhece se lembra. Frank era calado, mantendo sempre as suas opiniões para si. Era careca, e dentro da dupla era aquele que tinha juizo, ou um pouco dele. Draco pelo contrário era mais extrovertido. Tinha cabelo ruivo que usava curto e estava sempre pronto para passar à acção quando necessário. Ambos usavam um estilo de roupa semelhante. Fato preto informal, e óculos escuros, só mesmo para darem um ar bizarro de caçadores do oculto.
O trabalho que os dois levavam não era nenhuma bricandeira como alguns chegavam a pensar. Não eram videntes nem tinham poderes especiais. Apenas enfrentavam o imprevisivel mantendo-o longe de toda a gente, pois era isso que toda a gente queria. Vá-se lá saber porquê.